Por volta dos 3 anos podemos salientar dois novos aspetos: a afirmação do Eu: em que a criança já se consegue ver destacada dos outros. Existe uma separação e a possibilidade de dizer “Eu quero” em vez de “A Maria quer…” e também devido ao mesmo processo a negação com a palavra “não”, demonstra uma individualização. Ao nível da socialização a criança aumenta aqui muitas possibilidades no brincar, começando a brincar com os seus pares.
Logo aqui verificamos uma grande alteração comportamental trazendo grandes e novos desafios!
O pequeno potencial do pensar manifesta-se aqui na fantástica fantasia infantil. É muito interessante observar como a criança brinca com um objeto sem um propósito único. Um tronco de madeira, por exemplo, pode ser uma pessoa, um carro, uma ponte, etc.
É importante entender que a criança tem esta capacidade de fantasiar mas somos nós adultos que devemos dar-lhe a possibilidade de a manifestar quando, por exemplo, organizamos uma sala de jardim de infância sem ter brinquedos a mais, ou com poucos objetos “acabados” (que podem vir a ser o que a imaginação da criança determinar).
Existirá também nesta fase uma mudança na formação do torax que irá interferir com a respiração e circulação sanguínea (sistema rítmico). A criança adora tudo o que seja rítmico pois ela também o é. Histórias cumulativas (com repetição), danças e músicas deverão ser repetidas de forma a entrarem no seu sistema rítmico. Poderão ouvir repetidamente a mesma história e vão na mesma pedir para ouvir mais uma vez sem nunca se cansarem!
 
Dos 5 aos 7 anos
Esta fase as habilidades motoras da criança aumentam exponencialmente. Ela consegue dominar melhor o seu físico e, por este motivo é muito importante oferecer-lhe estes desafios no dia a dia (para que se possa exercitar e ir superando-se a ela mesma). Ir para a natureza é uma possibilidade onde explora vários movimentos importantes: atravessar, saltar, trepar, escalar, descer, correr. Para além disso podemos proporcionar na escola jogos como: saltar à corda (primeiramente a grande em conjunto e posteriormente a individual-que requer um maior domínio corporal).
Também nesta fase amadurece a motricidade fina dando-nos a possibilidade de desenvolver atividades manuais tais como: costura, dobragens, tecelagem, entre outras.
É muito importante adequar os materiais e as atividades às capacidades de cada criança. Cada vez ela sentir-se-à mais segura e mais capaz. Terá também mais capacidade de ajudar em tarefas das quais ela tanto gosta de participar: poderá pôr a mesa; ajudar a descascar os legumes; ajudar na preparação do lanche e ajudar até com os mais novos (ajudar a apertar um atacador por exemplo). Todos podem estar envolvidos de diferentes formas.
A forma como se relaciona com o outro vai-se modificando. As brincadeiras ganham mais forma e duram mais tempo, pois o poder de concentração também vai aumentando. É interessante observar que na fase dos seis/sete anos dão muita importância à preparação da sua brincadeira e por vezes a própria brincadeira é isso mesmo. A construção do espaço com panos, cordas e móveis, o diálogo, as decisões, a formação de grupos e a organização têm um papel primordial.
O brincar ao “faz de conta” torna-se mais completo com mais pormenores e detalhes.
Normalmente, também entre os seis e os sete anos surge uma transformação sensível e muito especial: a criança começa a perder os primeiros dentes de leite – um dos sinais (não o único) de que está a ficar preparada para a vida escolar.
“Somente com a expulsão das células hereditárias mais duras do corpo, representadas pelos dentes de leite, é que a reestruturação orgânica, substancial estará completada. O corpo se torna o instrumento adequado àquela individualidade. Quando isto acontece por volta do sétimo ano de vida (portanto entre os seis e sete anos) essas forças são metamorfoseadas e já podem ser usadas para o aprendizado escolar.”
Dá-se assim continuidade a esta linda Pedagogia, depois já na área da escola, onde a criança continua a aprender de forma harmoniosa.
Continuemos assim o nosso trabalho de Auto Educação para conseguirmos cada vez mais dar o nosso melhor exemplo às crianças!
Termino com um poema de Fernando Pessoa que considero muito especial:
Quando as crianças brincam
Quando as crianças brincam
E eu as ouço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar
.
E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém
Se quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no meu coração.